dói, mas passa

É muito fácil dizer que ama, quando nunca amou antes.
É muito fácil dizer-se apaixonado, quando se conhece a menos de um mês.
Quero ver amar de verdade, mesmo sendo tratada com indiferença. Continuar amando, mesmo chorando desesperadamente, agachada no chão do quarto. Quero ver pôr a cabeça no travesseiro, e pensar que você está em algum lugar, com outro alguém, dizendo que a ama.
É fácil dizer que ama, mas é difícil provar. É difícil ter que ficar calada, aceitar, quando todas as outras mulheres no mundo servem para você amar, menos eu.
Relacionamento fracassado, momentos construídos em cima de interesses e mentiras. Difícil é aceitar o te amar, mesmo sabendo que não vale a pena.
Continuarei seguindo a linha das mulheres românticas, apesar de saber que no próximo romance, chorarei, outra vez.

E assim, se foi...

Eu lembro que você me deu um abraço apertado, estávamos vendo um filme, eu deitada no seu colo... Sem beijos, sem olhares cruzados, parecíamos nos evitar. As suas mãos se entrelaçavam às minhas, as posições mudavam conforme o desconforto. Foi a última vez que nos vimos, antes de você me falar, dias depois, que havia uma outra pessoa.
Fiquei apenas com a lembrança daqueles abraços apertados, do seu braço em volta da minha cintura, do seu cheiro.
Com o fim, palavras foram ditas sem pensar, espero que tenham sido sem pensar. E foi aí que percebi, mesmo com o coração doendo, que tinha acabado, algo que talvez, sequer existiu.
Eu já amei assim, sozinha, outras vezes. Mas com você foi diferente, foi o fato de eu simplesmente não corresponder aos “valores” e fatores estéticos que você sempre desejou, que fez com que nos separássemos sem ao menos tentarmos publicamente.
 Não, eu não uso roupas de marca, talvez nem me vista bem. Não, eu nem sempre me preocupo com meu corpo, nem passo dias em salão de beleza, e mesmo assim, proporcionei a nós, bons momentos, e se você nos deixasse tentar, nos faríamos muito felizes.

De repente

De repente, os olhos se fecham, a barriga gela, as pernas tremem.
De repente, tudo é como se fosse a primeira vez, o primeiro beijo, o primeiro carinho.
E depois do primeiro vira rotina, uma rotina que fecha os olhos e os ouvidos, não se vê e não se ouve mais nada, apenas aquilo que lhe interessa.
Incrível como o amor modifica pouco a pouco todo o nosso interior, parece bruxaria.
De olhos vendados você segue, muitas vezes achando ser a pessoa mais feliz e mais sortuda do mundo, mas nem sempre é. Acontece que você não enxerga nada, apenas o amor.
E é assim, que as pessoas são enganadas por esse sentimento ingrato, tão lindo, mas ingrato. Perdem amigos, se afastam e nem liga, apenas uma pessoa te interessa no mundo.
Por fim, mas uma vez de repente, a história acaba e o amor de vai, talvez para o mesmo lugar que os amigos, você fica sozinha.

Eu sinto falta

SENTIR FALTA [Ana Coutinho]

Sentir falta, ao contrário do que dizem por aí, é diferente, muitíssmo diferente, de sentir saudades. Ah, sentir saudades... Sentir saudades é grandioso. Dor enorme que rasga por dentro dias seguidos, horas intermináveis, tempo infinito.

Sentir falta não. Sentir falta é pontual. Sentir falta é dor fina, dor de beliscão com unha, dor de anestesia de dentista. Sentir falta é mais específico. Sente-se falta do carinho antes de dormir, da implicância com o controle remoto, sente-se falta do jeito boboca que ele tinha de andar, se balançando todo. Sentir falta é mais egoísta, quase que material. Sentir falta do café dele, da bagunça dele, dos discos dele, do chinelo dele, sempre ali, jogado displicentemente na beira da cama. Sentir falta da camiseta velha dele que você podia usar... Ai, que falta faz essa camiseta... Sentir falta é pequeno, mas não menos doloroso.

Ou não dói uma unha encravada? Ou não dói um bife que a manicure tira? Ah, dói... e como. Talvez até mais que a dor da saudade.

A dor da saudade é grande. É infecção generalizada. É uma gripe daquelas, uma dengue hemorrágica, uma pneumonia. A saudade não te deixa respirar. Não te permite trabalhar, te faz faltar o ar. É dor das grandes que te derruba de tal forma que, de repente, por mais que esteja sol, faz um frio de rachar na sua casa e você pode jurar que nunca - nunca - sairá de novo de dentro do seu edredon, porque suas forças acabaram ali, naquele instante, e não há mais nenhum fiapo de vontade, sequer para amarar um tênis. Isso é saudade.

Saudade não é sempre de uma coisa específica. Pode até ser, mas normalmente saudade é plural. Saudades é dos dois. Saudades é de você mesma, com os olhos brilhando. Saudades do frio na barriga, saudades do começo, saudades da praia, saudades daquela festa ridícula, saudades dos foras que vocês davam juntos, dos preparativos para aquela viagem, saudades daquela viagem e da alegria de estar lá. Da expectativa de ir pra lá, da ansiedade, da enorme felicidade e graça, que só vocês conheceram...
Saudades de coisas efêmeras, saudades de fumaça que não se pega, não se toca e, talvez, nem tenha acontecido de fato.

Por isso, saudade pode ser inventada - falta não. Saudade é contínua, falta é curta. Saudade é pó, falta é pedra. Saudade é soco no estômago, falta é puxão de cabelo.
Falta é daquilo que não está ali, e que deveria estar. É a dor da cozinha intocada, da luz apagada, do controle remoto só seu. A falta está na rotina, nas pequenas coisas concretas do dia a dia. Ela é pontual, mas pode aparecer todos os dias. E todos os dias você sentirá a dor fina da picada de uma abelha quando notar, por exemplo, que o banheiro está arrumadíssimo e a pia ficou grande para os seus poucos perfumes. Lá está a dor da falta vindo de repente, tal qual um ladrão que te furta a bolsa... Ela vem e, como uma unha encravada, não te impede de trabalhar, de viver, até de se divertir. Mas avisa que está lá, latejando dentro do sapato bonito.

Você pode até ter se curado das saudades, mas, talvez, um dia, quando o chuveiro queimar, você vai sentir uma falta enorme dele, e de todas as soluções simples que ele tinha para problemas tão complexos como esse...

Talvez uma se cure antes da outra, talvez nenhuma das duas tenha cura. Ambas, no entanto, te trazem a sensação da angústia. Ambas acontecem apenas quando o objeto da saudade ou da falta, parece estar ali, na beirada da sua vida. Ambas te fazem esticar o braço com força, com toda a sua força, o máximo que pode, para alcançar aquilo que já não está mais ali, que é sombra, é marca d'água de powerpoint, e é por isso que dói.

Talvez essas duas dores só sumam de fato quando ele sair da beirada. Quando o desenho do rosto dele não for mais tão nítido na sua memória, quando o som da voz dele não for mais tão claro em teus ouvidos. A saudade e a falta, de formas diferentes, com dores distintas, clamam por aquilo que mais se teme. A única solução possível é a mais temida, e serve para as duas: o esquecimento.
Hoje eu chorei, dizem que é bom chorar.  Lembrei de alguns momentos, momentos tão especiais.
Eu chorei ao lembrar do seu abraço, que a tanto tempo não recebo, do seu beijo, do cheiro do seu perfume.
Eu chorei, e não tenho vergonha de chorar, dizem que limpa a alma.
E em meio às lembranças desses momentos, só nossos, que resultaram em lágrimas tão doces, alguns me faziam simplesmente não te conhecer, como aqueles que você deitava no meu colo e pedia carinho.
Você pode achar que foram meses em vão, mas pra mim, cada dia valeu a pena. Eu te amei.
A vida é uma estante cheia de romances, há entre todos os livros, um preferido, aquele do pra sempre, que guardaremos para vida. Há nessa estante outros livros, pegamos, lemos e colocamos de volta no lugar, de onde jamais deveriam ter saído.

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